Implicações do Diário de João Ribeiro - Paula

Ninguém sabe ao certo como a carta escrita por João Ribeiro foi publicada na Internet. Nos meses em que a polícia achou seu corpo e investigou o caso, somente um jornal de bairro local comentou a história e de forma bem superficial e sem alardes. A carta estava escondida e foi adicionada às provas e provavelmente foi arquivada e talvez destruída. Pois, como se sabe, pouco se deu atenção ao caso.

Este texto é o primeiro de um estudo que nasceu com o objetivo de estudar melhor os aspectos obscuros relatados na carta. O que é verdade e o que não é. Ele é uma iniciativa de alguns estudantes de Jornalismo da Faculdade Casper Líbero que tiveram acesso ao mesmo texto amplamente conhecido e que se intrigaram não apenas com seu aspecto peculiar, mas também com as implicações fora dele. Talvez ajudem a responder algumas perguntas.

Por exemplo, por que João Ribeiro nunca menciona o nome da ex-esposa? Se João teve acesso aos registros escolares do menino que teria aparecido em suas visões, por que seu nome também não é mencionado no final da carta, onde ele explicitamente cita o nome de muitos envolvidos? E por que João nunca fala no que ele e o amigo trabalham, e detalhes de sua origem, já que ele foi tão cuidadoso em relatar tantos detalhes sobre seus "algozes"?



Quando o texto foi divulgado, não demoraram a surgir relatos de pessoas que não tinham nenhuma conexão com a história, afirmando sofrer alucinações da mesma figura sinistra - a que João chamava de "a viúva misteriosa" ou "a viúva do éter" - e também do menino - mas este com uma frequência bem menor. Como a maioria dos casos foi identificado em fóruns de ajuda e sites da internet, as fontes são duvidosas. Um blog chegou a ser criado por adolescentes denominado "eu ví a víuva do éter" em caráter vexatório, com o intuito de colher alguma fotografia da aparição, bem como rituais que fossem capazes de invocá-la, todos sem seriedade ou nenhum rigor científico. Mas com o tempo, o site começou a ganhar atenção especial quando muitas pessoas mandavam mensagens pedindo ajuda para as alucinações pararem.  Hoje o site não encontra-se mais no ar.

Alguns médicos começaram a receber pacientes em suas clínicas relatando os mesmos sintomas. Estes se divertiam chamando esses casos de "A Síndrome da Viúva do Éter" para um conjunto de alucinações que aconteciam a pessoas que se impressionavam demais com o texto.

No entanto, um episódio em especial merece destaque. Ele não ocorreu na internet, mas durante um programa de rádio AM, destinado ao público de baixo poder aquisitivo, veiculado em todas as manhãs. Para preservar todos os envolvidos, os nomes foram trocados.

O programa, que como tantos no mesmo formato, mescla música popular com dedicatórias feitas em sua maioria por mulheres apaixonadas para seus namorados, mas que também apresenta homens em alguns casos,  é veiculado (ele ainda existe) das 7h da manhã até as 9h, quando dá lugar ao noticiário policial sensacionalista.

Em uma manhã, o anfitrião do programa recebe a ligação de uma empregada doméstica, aqui chamada de Paula. Paula liga aflita querendo ao máximo estender a conversa, que o anfitrião conduz habilmente em forma de paquera para explorar o sentimento das ouvintes. Ela afirma viver sozinha com os filhos, tendo um namorado que, ocasionalmente, dorme em casa.

Ela resiste ao máximo em terminar a conversa. Quando o anfitrião não tem mais argumentos e insiste para a ouvinte pedir a música e fazer sua dedicatória, esta desaba em desespero e passa a pedir ajuda.

Segundo o relato de Paula, ela passou a sofrer casos gravíssimos de sonambulismo. Num desses casos, a ouvinte afirma ter retirado em plena madrugada uma gaveta cheia de talheres da cozinha e derrubá-la sobre o berço dos filhos. Felizmente, eles foram protegidos pelo cercadinho, sem que isso evitasse um grande susto em todos.

Chamou-nos a atenção a parte em que ela afirma que, mesmo após despertar do sono, ter observado no canto da parede oposta, surgindo de onde nada havia, uma mulher com os mesmos aspectos citados por João Ribeiro em sua carta: pálida, com um vestido preto surrado semelhante a uma roupa de luto, muito magra, com os braços repletos de cortes, longos cabelos, e os olhos assustadoramente mortos, fixando lugares diferentes ao mesmo tempo.

Nosso grupo teve acesso a essa história por acaso, quando uma das pessoas de nossa turma se dirigia para um compromisso enquanto pegava carona em um taxi.

Como todos devem imaginar, a ouvinte foi cortada abruptamente do ar, dando lugar a uma música das paradas e a 4 ou 5 anúncios comerciais seguidos para dissipar o clima.

Nossa equipe tentou contato com a rádio e os dados da ouvinte, mas não obteve sucesso devido a política de confidencialidade que protege os ouvintes. No entanto, após algumas negociações (suborno) conseguimos o telefone de Dona Paula e, embora não conseguimos conversar com ela, pudemos ouvir o relato de Alexandre, seu namorado.

Alexandre frisa um episódio em especial que o fez reduzir seus pernoites no local: certa madrugada, ele desperta percebendo estar a sós na cama, quando nota algo aterrador: Paula vestida de camisola desajustadamente em pé sobre o cercadinho do berço, perfeitamente equilibrada, olhando fixamente para os filhos, sem que o berço virasse nem cedesse sobre efeito de seu peso.

Não bastasse a visão quase enlouquecê-lo, ainda teve de convencer a namorada a descer, ignorando as circunstâncias absolutamente bizarras do berço se manter ante seu peso. Depois que conseguiu convencer a mulher a retornar para a cama, ele afirma ainda ter sentido um suspiro acompanhado de um assovio fraco e doente vindo de trás de sua nuca, o fazendo gelar de medo, impedindo que ele se voltasse para a fonte do suspiro para manter alguma lucidez para conduzir a namorada para a cama. Ele ainda chama atenção para o forte cheiro de terra que se instaurou sem qualquer sentido no ambiente.

Pouco depois, ele afirma ter sentido uma mão invisível lhe tocando a coxa quando estava deitado. Apavorado, ele não checou nenhuma das interações sobrenaturais, mas SAIBA O TEMPO TODO NÃO ESTAREM SOZINHOS.

Nossa equipe ainda está a espreita para entrevistar Paula e colher seu depoimento na íntegra. Por ora, nossa única ação foi recomendar que não se permitisse que as crianças passassem as noites sozinhas com ela em casa.

Este e outros casos serão divulgados e anexados às nossas investigações para obtermos as respostas as nossas indagações.

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