A pior coisa do mundo (parte 2 de 2)


Conheci Joaquim e Osvaldo há poucos meses em um grupo de apoio para pessoas com minha mesma doença terminal. Embora nós três pareçamos bem, temos poucos meses de vida.

Mesmo assim, parece que os conheço há décadas.

Joaquim esteve sumido. Quando reapareceu, veio contando sobre um culto que passou a fazer parte. Dizia muitas coisas que, na época, não faziam sentido. Nos contou conhecimentos secretos sobre uma espécie de realidade paralela que era feita por remendos de pesadelos chamada de “éter”. Agora sei que não existe forma adequada sobre como chamar esse lugar. Nos contou também um cem número de coisas que dois exploradores fizeram na tentativa de estudar esse lugar e também o mundo dos sonhos. Esses dois eram chamados só pelas iniciais “S.” e “V.”. Osvaldo ficou tão impressionado com essas histórias que decorou parágrafos daqueles delírios todos (que agora sei que são reais).

Me chamo Inácio e, para resumir, sou um sujeito prático e direto ao ponto. Infelizmente, nem toda a praticidade e bom senso do mundo me preparou para a aventura que estou relatando. Se você perguntar ao Osvaldo o que aconteceu do ponto de vista dele, tenho certeza de que este relato teria algumas páginas a mais. Mesmo assim, ele não seria digno da experiência por que passamos.

A pior coisa do mundo (parte 1 de 2)


Joaquim, Inácio e eu nos encontramos certa vez em um bar, a pedido do primeiro, para tratar de um assunto que poderia trazer alívio para todos os nossos corações. Nós três fomos diagnosticados com um terrível tipo de doença que nos reserva poucos meses de vida. Nosso infortúnio, igualmente nos tira o sono e o sossego de nossos familiares, uma vez que ficamos amargos e pessimistas. Nos conhecemos num grupo de apoio à vítimas do mesmo mal e nos identificamos logo de cara. Assim, dividimos nossas frustações e aprendemos a conviver com elas.

Joaquim esteve um tempo afastado. Esteve frequentando uma estranha religião que não sei bem se lhe cabe esse nome. Ele trazia novidades: dizia que tinha aprendido muitas coisas secretas e veio com uma história inacreditável e idealista. Já que íamos fatalmente morrer em poucos meses, queria que sua vida tivesse valido a pena e nos propôs o absurdo: queria destruir o que chamou de “a pior coisa do mundo“, para acabar com o sofrimento da Humanidade.

Amanda tem um segredo


Amanda tem um segredo.

Amanda tem 19 anos e a pele branquinha. Seus cabelos são castanhos, longos e sedosos. Chegam até a metade das costas. Ela gosta de enrolá-los em coque, só para deixá-los se soltar e espalhar o aroma do shampoo gostoso em câmera lenta. Tem os olhos lindos e o rosto de princesa. A voz de Amanda é capaz de acabar com uma guerra (ou de provocar outra). Suas mãos estão entre a delicadeza de uma fada e a malícia do pecado. Gosta de provocar, mas de jeito sutil. Usa, sempre que pode, bermuda jeans curta até a altura das cochas brancas. Os garotos se apaixonam por ela, os adultos a desejam, as mulheres a invejam. Mas Amanda tem um segredo - só que ainda não é hora de contar (ela pode estar ouvindo...)

Amanda gosta de colocar o pingo no “i“ como uma bolinha. Tem letra redondinha e ainda hoje tem o costume de medir o parágrafo dos manuscritos com dois dedos. Amanda é ótima em matemática, mas já mentiu só para fazer aula de reforço com certo professor. Amanda não é virgem, mas só tem certeza disso quem já beijou a sua flor... Mas Amanda tem um segredo - só que ainda é cedo para contar porque ela parece desconfiada...

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