- Vejamos... e o que a senhora tem?
- Eu nada, doutor. É meu filho.
- E o que ele tem?
- Está apático, doutor. Só come e dorme o
dia inteiro. Ele não joga bola como os outros garotos e nem sai "de
balada" à noite. - respondeu conotando o termo "de balada",
ressaltando a estranheza de ser usado por alguém de sua idade.
O médico parecia apático e desinteressado.
Já sabia o diagnóstico no momento em que pôs os olhos nos dois entrando no
consultório, mas não queria parecer pragmático em dar um diagnóstico sem
realizar um exame antes - E também para fazer a mulher acreditar que o tempo
dela não estava sendo desperdiçado.
Ele olhou para a cara sonolenta do rapaz
que aparentava ter ainda mais sono. Decidiu teatralizar um pouco porque, no
fundo, também achava que o rótulo da sua especialidade soava um pouco apelativo
e bizarro. Era como se tentasse provar para os pacientes que, a pesar do que
parecia, também era médico. Então pegou um abaixador de língua...
- Diga "aaaaaahhh".