O Vulto

Nunca tinham dado muita importância para o vulto que morava na biblioteca da Universidade desde incontáveis anos. No começo, costumava insinuar sua existência no canto esquerdo da vista, próximo ao ponto-cego, como fazem a maioria deles. Depois, se transformava em qualquer coisa para fazer se passar por alguma silhueta mal interpretada à primeira vista.

Vivia dessas aparições. Estava sempre vestindo o mesmo pulôver cinza-sem-graça. Tinha meia-idade e estava sempre lendo o mesmo livro de capa branca e amassada.

Se a vontade de todo anônimo é ser celebridade, a de todo vulto é ser existência. Ser sólido e falar das coisas. Falar do que viu, ser vivente e interagir com os outros. Porém, os vultos não têm linguagem linear, sequer falam a língua dos homens. Conhecem o verbo ancestral, dominado apenas pelas coisas ocultas e outros seres que habitam a profundidade do éter.

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