O Monstro da Chácara


Na infância, os quatro amigos passavam as tardes na chácara do pai do Olavo no Sobral aprontando traquinagens, engordando e ouvindo histórias. O pai do Olavo contava um cem número de lorotas para assustar os garotos e quase sempre arrancava mais risos do que sustos. O avô sempre estava presente, mas raramente participava das sessões de histórias de terror. Mas bastou um único conto para deixar os meninos instigados.

Ele dizia que quando estava virando homenzinho, seu pai havia enriquecido de repente. Havia mudado de hábitos abruptamente e passava mais tempo dormindo que acordado. Dedicava parte do tempo em ficar rabiscando símbolos estranhos que ele julgava ser a origem obscura da fortuna. Pouco antes de morrer, teria evocado sem querer a própria mula-sem-cabeça, que permaneceria perdida vagando por aquelas terras porque seu pai seria incapaz de mandá-la de volta de onde veio.

Daquele momento em diante, não haveria verão na chácara sem que os quatro não ficassem debruçados sobre a velha sacada da casa tentando descobrir onde a mula-sem-cabeça apareceria. Não falavam em outra coisa e não pensavam em outra coisa. Qualquer rugido, qualquer luz ou luar diferente tinha a ver com a mula vagando,  tentando voltar para casa.

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